terça-feira, 21 de junho de 2016

Deus é infinito - terceira parte



Ele enche todos os lugares e está presente em todos os lugares. Isso é triste para o ímpio: Deus é seu inimigo e não pode escapar nem fugir dele, pois está em todos os lugares. Nunca estarão longe de sua vista nem fora de seu alcance: “a tua mão alcançará todos os teus inimigos” (SI 21.8). Em que cavernas ou matas podem os homens se esconder onde Deus não os encontre? Podem ir aonde quiserem, mas ali ele está presente: “para onde fugirei da tua face?” (SI 139.7). Se alguém deve a outra pessoa, pode fugir de seu credor indo para outra cidade, onde não possa ser encontrado. “Mas quem fugirá da tua presença?” Deus é infinito, está em todos os lugares; assim encontrará seus inimigos e os punirá.
Neste ponto, alguém pode argumentar o seguinte: Mas não está escrito que Caim fugiu de sua presença? (Gn 4.16) O significado desse texto é que Caim saiu da igreja de Deus, na qual estavam os sinais visíveis da presença de Deus que, de uma maneira especial, manifestavam sua doce presença ao seu povo. Contudo, Caim não poderia sair da vista de Deus, pois Deus, sendo infinito, está em todos os lugares. Os pecadores não podem fugir de uma consciência acusatória nem de um Deus vingador.
Se Deus está presente em todos os lugares, então um cristão andar com Deus não é algo impossível. Deus não está somente no céu, mas também na terra (Is 66.1). O céu é seu trono, lá ele se assenta. A terra é o estrado de seus pés, aqui ele apóia seus pés. Deus está presente em todos os lugares, portanto podemos andar com Deus: “andou Enoque com Deus” (Gn 5.22). Se Deus estivesse confinado no céu, uma alma temerosa poderia pensar: “como posso eu conversar com Deus, como posso andar com aquele que vive na região superior?” Porém, Deus não está confinado no céu, ele é onipresente, está acima de nós e ao mesmo tempo ao nosso redor, perto de nós (At 17.27).
Ele não está longe da assembléia dos santos: “Deus assiste na congregação divina” (SI 82.1). Ele está presente entre nós e em cada um de nós, de maneira que podemos andar com Deus aqui na terra. No céu os santos descansam com ele, na terra andam com ele. Andar com Deus é andar pela fé. A Palavra diz para nos aproximarmos de Deus (Hb 10.22) e vê-lo: “permaneceu firme como quem vê aquele que é invisível” (Hb 11.27). Ter comunhão com ele: “a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo” (Uo 1.3). Assim, podemos dar uma volta com ele todos os dias pela fé. Não andar com Deus é desdenhá-lo. Se um rei está presente, continuar fazendo uma tarefa sem parar é desdenhá-lo, negligenciá-lo. Não há uma caminhada neste mundo tão doce quanto a caminhada com Deus: “anda... na luz da tua presença” (SI 89.15). “Cantarão os caminhos do Senhor” (SI 138.5). É como andar entre canteiros de temperos que exalam uma fragrância perfumosa. Aprenda a admirar o que você não pode compreender. Os anjos vestem um véu, cobrem suas faces como que adorando essa majestade infinita (Is 6.2). Elias se enrolou em um manto quando a glória de Deus passou por ele. Admire o que você não pode compreender: “porventura, desvendarás os arcanos de Deus ou penetrarás até à perfeição do Todo-poderoso?” (Jó 11.7).
Neste mundo, vemos alguns raios de sua glória, nós o vemos no espelho da criação, nós o vemos em sua imagem que brilha nos santos; mas quem pode penetrar toda sua glória essencial? Que anjo pode medir esse colosso? “Porventura, desvendarás os arcanos de Deus?” Ele é infinito. Não podemos penetrar sua infinita perfeição, assim como alguém no topo da montanha mais alta não pode tocar o firmamento ou pegar uma estrela em sua mão.
Tenha pensamentos admiráveis a respeito de Deus. Adore a realidade que você não pode compreender. Há muitos mistérios na natureza que não podemos compreender: o mar é mais profundo que a terra, mas não a afoga; o Nilo deve transbordar no verão, quando, pelo curso da natureza, as águas estão mais baixas; uma criança se desenvolve misteriosamente no ventre materno (Ec 11.5). Se essas coisas nos impressionam o mistério infinito da deidade transcendente impressionará muito mais os grandes intelectuais. Pergunte ao geômetra se ele pode, com o compasso, medir a largura da terra. Quão incapazes somos nós de medir as perfeições infinitas de Deus. No céu veremos Deus claramente, mas não totalmente, pois ele é infinito. Ele se comunicará conosco de acordo com a grandeza de nosso vaso, mas não de acordo com a imensidão de sua natureza. Adore o que você não pode compreender.
Se Deus é infinito em todos os lugares, não o limitemos: “agravaram o Santo de Israel” (SI 78.41). Confinar Deus dentro do estreito compasso de nossa razão é limitá-lo. A razão cogita que Deus deve seguir uma direção para realizar algo, caso contrário tal coisa nunca acontecerá. Isso é limitar Deus à nossa razão. Ele é infinito, seus caminhos vão além do que se pode compreender (Rm 11.33).
Sobre a salvação da igreja, quando se determina um tempo ou se prescreve um método, limita-se Deus. Deus salvará Sião, mas o fará livremente. Ele não estará preso a um lugar, a um tempo ou a um instrumento que o limite, pois se assim não fosse, não seria infinito. Deus seguirá seu próprio caminho, ele agirá e confundirá a razão, trabalhará pelas improbabilidades, salvará de tal maneira que pensaríamos que destruiria. Ele age como ele mesmo, como um Deus que trabalha de maneira maravilhosamente infinita ( 1Sm 2,3).

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