Ele
enche todos os lugares e está presente em todos os lugares. Isso é triste para
o ímpio: Deus é seu inimigo e não pode escapar nem fugir dele, pois está em
todos os lugares. Nunca estarão longe de sua vista nem fora de seu alcance: “a
tua mão alcançará todos os teus inimigos” (SI 21.8). Em que cavernas ou matas
podem os homens se esconder onde Deus não os encontre? Podem ir aonde quiserem,
mas ali ele está presente: “para onde fugirei da tua face?” (SI 139.7). Se
alguém deve a outra pessoa, pode fugir de seu credor indo para outra cidade,
onde não possa ser encontrado. “Mas quem fugirá da tua presença?” Deus é
infinito, está em todos os lugares; assim encontrará seus inimigos e os punirá.
Neste
ponto, alguém pode argumentar o seguinte: Mas não está escrito que Caim fugiu
de sua presença? (Gn 4.16) O significado desse texto é que Caim saiu da igreja
de Deus, na qual estavam os sinais visíveis da presença de Deus que, de uma
maneira especial, manifestavam sua doce presença ao seu povo. Contudo, Caim não
poderia sair da vista de Deus, pois Deus, sendo infinito, está em todos os
lugares. Os pecadores não podem fugir de uma consciência acusatória nem de um
Deus vingador.
Se
Deus está presente em todos os lugares, então um cristão andar com Deus não é
algo impossível. Deus não está somente no céu, mas também na terra (Is 66.1). O
céu é seu trono, lá ele se assenta. A terra é o estrado de seus pés, aqui ele
apóia seus pés. Deus está presente em todos os lugares, portanto podemos andar
com Deus: “andou Enoque com Deus” (Gn 5.22). Se Deus estivesse confinado no
céu, uma alma temerosa poderia pensar: “como posso eu conversar com Deus, como
posso andar com aquele que vive na região superior?” Porém, Deus não está
confinado no céu, ele é onipresente, está acima de nós e ao mesmo tempo ao
nosso redor, perto de nós (At 17.27).
Ele
não está longe da assembléia dos santos: “Deus assiste na congregação divina”
(SI 82.1). Ele está presente entre nós e em cada um de nós, de maneira que
podemos andar com Deus aqui na terra. No céu os santos descansam com ele, na
terra andam com ele. Andar com Deus é andar pela fé. A Palavra diz para nos
aproximarmos de Deus (Hb 10.22) e vê-lo: “permaneceu firme como quem vê aquele
que é invisível” (Hb 11.27). Ter comunhão com ele: “a nossa comunhão é com o
Pai e com seu Filho, Jesus Cristo” (Uo 1.3). Assim, podemos dar uma volta com
ele todos os dias pela fé. Não andar com Deus é desdenhá-lo. Se um rei está
presente, continuar fazendo uma tarefa sem parar é desdenhá-lo, negligenciá-lo.
Não há uma caminhada neste mundo tão doce quanto a caminhada com Deus: “anda...
na luz da tua presença” (SI 89.15). “Cantarão os caminhos do Senhor” (SI
138.5). É como andar entre canteiros de temperos que exalam uma fragrância
perfumosa. Aprenda a admirar o que você não pode compreender. Os anjos vestem
um véu, cobrem suas faces como que adorando essa majestade infinita (Is 6.2).
Elias se enrolou em um manto quando a glória de Deus passou por ele. Admire o
que você não pode compreender: “porventura, desvendarás os arcanos de Deus ou
penetrarás até à perfeição do Todo-poderoso?” (Jó 11.7).
Neste
mundo, vemos alguns raios de sua glória, nós o vemos no espelho da criação, nós
o vemos em sua imagem que brilha nos santos; mas quem pode penetrar toda sua
glória essencial? Que anjo pode medir esse colosso? “Porventura, desvendarás os
arcanos de Deus?” Ele é infinito. Não podemos penetrar sua infinita perfeição,
assim como alguém no topo da montanha mais alta não pode tocar o firmamento ou
pegar uma estrela em sua mão.
Tenha
pensamentos admiráveis a respeito de Deus. Adore a realidade que você não pode
compreender. Há muitos mistérios na natureza que não podemos compreender: o mar
é mais profundo que a terra, mas não a afoga; o Nilo deve transbordar no verão,
quando, pelo curso da natureza, as águas estão mais baixas; uma criança se
desenvolve misteriosamente no ventre materno (Ec 11.5). Se essas coisas nos
impressionam o mistério infinito da deidade transcendente impressionará muito
mais os grandes intelectuais. Pergunte ao geômetra se ele pode, com o compasso,
medir a largura da terra. Quão incapazes somos nós de medir as perfeições
infinitas de Deus. No céu veremos Deus claramente, mas não totalmente, pois ele
é infinito. Ele se comunicará conosco de acordo com a grandeza de nosso vaso,
mas não de acordo com a imensidão de sua natureza. Adore o que você não pode
compreender.
Se
Deus é infinito em todos os lugares, não o limitemos: “agravaram o Santo de
Israel” (SI 78.41). Confinar Deus dentro do estreito compasso de nossa razão é
limitá-lo. A razão cogita que Deus deve seguir uma direção para realizar algo,
caso contrário tal coisa nunca acontecerá. Isso é limitar Deus à nossa razão.
Ele é infinito, seus caminhos vão além do que se pode compreender (Rm 11.33).
Sobre
a salvação da igreja, quando se determina um tempo ou se prescreve um método,
limita-se Deus. Deus salvará Sião, mas o fará livremente. Ele não estará preso
a um lugar, a um tempo ou a um instrumento que o limite, pois se assim não
fosse, não seria infinito. Deus seguirá seu próprio caminho, ele agirá e
confundirá a razão, trabalhará pelas improbabilidades, salvará de tal maneira
que pensaríamos que destruiria. Ele age como ele mesmo, como um Deus que
trabalha de maneira maravilhosamente infinita ( 1Sm 2,3).
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