É o que chamamos comumente de “depressão”. Trata-se
de um distúrbio cerebral caracterizado por desregulação conjunta de áreas
relacionadas ao humor, energia, impulsos (vontade/iniciativa), prazer, funções
neurovegetativas (sono, apetite, libido e dor) e de funções cognitivas
(pensamento, memória, atenção e funções executivas), em maior ou menor grau.
A desregulação da função
cerebral do humor está sempre presente, embora nem sempre o humor seja melancólico
(tristeza, choro, culpa, sentir-se inútil e sem esperanças) e muitas vezes são
apáticas (indiferença, perda de atratividade pelo meio). A alteração do humor
na depressão maior produz um estado de humor distinto do normal do indivíduo, é
possível perceber uma alteração no temperamento, o humor relacionado à personalidade,
que é constante e que na depressão maior se torna alterado.
Além disso, os sintomas são
suficientemente graves a ponto de atrapalhar pelo menos de alguma maneira o
dia-a-dia da pessoa e trazer sofrimento. Embora possa ocorrer em episódio único,
isto é, a pessoa ter uma depressão, se tratar e ficar curada, geralmente evolui
para uma condição recorrente, isto é, com novos episódios de depressão futuros.
Muitas vezes o tratamento
inadequado no primeiro episódio de depressão é o fator que leva a cronificação
da doença e a sua alta recorrência. A ocorrência de depressão maior ao longo da
vida é da ordem de 20% na população geral, isto é, 1/5 da população total do
planeta vai experimentar algum grau de episódio depressivo ao longo da vida e
as estatísticas são semelhantes mesmo mudando de país pois é uma doença de
ocorrência universal.
Geralmente tem início após
os 30 anos de idade sendo que episódios depressivos que se iniciam muito cedo
(infância e adolescência) devem levantar a hipótese de depressão em outras doenças
(transtorno bipolar, transtornos de personalidade, etc). Ocorre cerca de 3 a 4
vezes mais frequentemente em mulheres do que em homens devido a fatores
hormonais.
A herança genética ocorre em
60%, isto é, a chance de um parente de primeiro grau acometido doar os genes
para sucessores é desta ordem, o que não significa que a doença vá se expressar
porque muitas vezes transtornos do humor necessitam de gatilhos ambientais e
psicológicos para o início da apresentação clínica.
Entre 80% e 90% dos
pacientes com esse diagnóstico podem ser eficazmente tratados e retornam à sua
vida normal. O risco de suicídio da depressão maior é cerca de metade (7%) do
risco na depressão com bipolaridade (15%).
O diagnóstico de transtorno
depressivo maior é clínico, isto é, a partir de um conjunto de sinais e sintomas
que se agrupam de maneira semelhante nas pessoas acometidas pela mesma doença. É
importante se descartar outras doenças físicas (hormonais, hematológicas,
reumatológicas, neurológicas, etc) e uso de substâncias (medicamentos ou
drogas) que podem causar secundariamente depressão.
Os sintomas devem estar presentes
continuamente ou na maior parte do tempo por pelo menos 2 semanas, de maneira
diferente do funcionamento
habitual da pessoa e causando um impacto significativo no convívio social, no
trabalho ou em outras áreas importantes da vida (observação: os sintomas 1 e/ou
2 são obrigatórios):
• Humor deprimido (melancólico
ou apático) na maior parte do dia, quase todos os dias;
• Interesse ou prazer
marcadamente diminuídos em relação a todas ou quase todas as atividades, quase
todos os dias;
• Perda ou ganho de peso
significativo;
• Insônia ou sono excessivo
quase todos os dias;
• Lentificação motora quase
todos os dias;
• Fadiga ou perda de energia
quase todos os dias;
• Sentir-se sem valor ou com
culpa excessiva, quase todos os dias;
• Habilidade reduzida de
pensar ou se concentrar, quase todos os dias;
•Pensamentos recorrentes
sobre morte, pensamentos suicidas sem um plano, tentativa de suicídio ou plano
para cometer suicídio.
Referência: Tabela
periódica dos transtornos emocionais (vittude).