segunda-feira, 18 de julho de 2016

Dízimo e as contribuições no Antigo Testamento




No Antigo Testamento, a entrega do dízimo baseava-se na convicção teológica de que o Senhor é o dono de toda a terra, o doador e o preservador da vida (Sl 24). O dízimo era santo ao Senhor e sua entrega seria uma demonstração prática do reconhecimento da soberania de Deus sobre a terra, seus frutos e a própria vida do ofertante. Essa era a razão pela qual reter os dízimos seria equivalente a roubar o Senhor (Ml 3.10). Ao mesmo tempo, a entrega dos dízimos era a expressão prática da gratidão a Deus por suas bênçãos e generosidade para com a nação israelita. Logo, aquele ato possuía significado cúltico e ocorria em cerimônias acompanhadas de intensa celebração e adoração a Deus.
Todavia, a retenção do dízimo não estava sujeita às mesmas penalidades legais provenientes da desobediência civil da lei, como exclusão social e apedrejamentos. A infidelidade do povo seria  disciplinada   por Deus pelas catástrofes sociais e econômicas.
As razões para a adoção da décima parte como padrão de contribuição no Antigo Testamento não são específicas.
Esse costume estivesse ligado ao sistema cultural antigo de contar as unidades em dez, o que teria sido facilitado pelos dez dedos das mãos e dos pés. Na numerologia bíblica, o número dez parece ser altamente significativo, uma vez que ele é o produto da soma de dois números sagrados: o três (Trindade) e o sete (o número da perfeição). Nesse caso, a identificação do dízimo com o sistema de contar unidades em dez parece ser a razão mais plausível para a adoção da décima parte como padrão proporcional de contribuição entre os israelitas.   Segundo o Dicionário Bíblico Wycliffe, a palavra hebraica” azar “ é derivado da palavra que significa “ dez “ e que também significa “ ser rico “. Aqueles que argumentam que o dízimo é prática meramente legalista do Antigo Testamento devem atentar ao fato de que esse costume precedia à instituição da lei mosaica. No período patriarcal, Abraão entregou o dízimo de tudo a Melquisedeque (Gn 14.20).
O que foi entregue naquela ocasião, era a décima parte dos despojos de uma batalha e não do produto da terra ou do rebanho. O texto não traz mais informações quanto à forma ou o motivo de Abraão tê-lo feito, pois ao que se sabe, não havia ainda nenhum mandamento divino obrigando-o a entregar o dízimo. Alguns anos depois daquele episódio, Jacó fez um voto de dar a Deus o dízimo   de tudo o que viesse a possuir em(Gn28.20). Não se sabe como aquele voto seria cumprido, como o dízimo seria entregue ou quem haveria de recebê-lo. Porém, esses casos apontam para duas verdades básicas: a prática de entregar o dízimo fazia parte da religiosidade dos patriarcas e ela era uma expressão direta do reconhecimento da generosidade de Deus para com os seus adoradores. A prática religiosa dos patriarcas quanto à entrega dos dízimos foi incorporada às normas de contribuição instituídas por Deus à nação de Israel. Esse sistema consistia de dízimos e ofertas alçadas (quando o povo era divinamente levantado ou motivado a ofertar). Segundo essas normas, os judeus deveriam entregar o dízimo dos cereais do campo, dos frutos das árvores e do produto do rebanho (Lv 27.30-34). Se alguém quisesse entregar o valor monetário no lugar do cereal ou das frutas, poderia fazê-lo, desde que um quinto da soma fosse adicionado ao valor principal dos mesmos (Lv 27.31). No caso onde a prática do dízimo envolvia a entrega de animais, não havia a possibilidade de resgate (Lv 27.30s, Dt 12.6). Entregar animais defeituosos ou em condições inferiores ao restante do rebanho como parte do dízimo    era terminantemente proibido e seria interpretado como um ato     de ofensa à santidade de Deus.
O dízimo deveria ser entregue aos levitas e destinava-se, em grande medida, ao sustento do santuário e dos sacerdotes que nele oficiavam  (Nm 18.21-24). Devido à natureza do trabalho que realizavam   no santuário, os levitas não tinham outros meios de renda, nem gado e nem herança entre as tribos de Israel. Consequentemente, eles seriam sustentados pelos dízimos. Há que se notar que os levitas não tinham permissão para conservar para si a           totalidade           dos dízimos consagrados.   Ao          contrário, eles mesmos estavam sujeitos às  normas de contribuição e deveriam entregar “os dízimos dos dízimos”
(Nm 18.26 e 28). A   parte   oferecida pelos levitas seria sempre    a melhor parte dos dízimos recebidos.
Os dízimos eram geralmente entregues no templo, em um ato    de adoração, o qual       assumia a forma       de uma celebração festiva e  familiar (Dt 12.5-19). Por meio da entrega dos dízimos o povo era      incentivado a reverenciar o Senhor com todas as suas posses. Havia duas ocasiões para a entrega dos dízimos no Antigo Testamento: anualmente ou a cada três anos. Sobre a prática anual, os  israelitas levavam o dízimo ao   templo e ali     participavam, juntamente com os sacerdotes, de uma refeição cultual envolvendo a família (Dt 12.5,11 e 14.23). Geralmente, os dízimos do triênio eram o produto do gado e do fruto da terra e poderiam ser substituídos por um equivalente monetário (Dt 14.24-27). A soma dessa  contribuição trienal     permanecia em diferentes cidades de Israel     e era destinada ao sustento dos sacerdotes e dos necessitados (Dt14.22-29). A lei previa que parte     do dízimo seria utilizada como um imposto nacional destinado ao sustento da monarquia. Por essa razão, no final do período dos juízes, Samuel procurou   desmotivar o povo que clamava por um rei, apelando para as consequências   econômicas e advertindo   que   o rei   teria    que ser sustentado      por meio dos dízimos do povo (1Sm 8.15 e 17).
A entrega dos dízimos era tão central à vida da nação de Israel que Neemias a restituiu tão logo, assim que o povo foi liberto do cativeiro     babilônico (Ne 13.10-14). A desobediência dessa prática, de acordo           com o profeta Malaquias, equivalia ao pecado de roubar a Deus e o povo seria repreendido e até punido por fazê-lo (Ml 3.6-12).
Em épocas de intensa idolatria, os israelitas entregavam seus dízimos aos ídolos em cultos pagãos, multiplicando assim suas transgressões diante do Senhor (Am 4.4,5). Por essa razão, toda reforma            religiosa e despertamento espirituais em Israel incluía a     restauração da prática da entrega dos dízimos, como aconteceu na época de Ezequias e Neemias (2Cr 31.10,11; Ne 13). Ao que parece,    os dízimos eram recolhidos    em um depósito que na época de   Neemias eram chamadas “as câmaras da casa do tesouro” (Ne   10.38). É importante observar que a restauração da prática nacional    da entrega dos dízimos era recebida com grande alegria por  parte do        povo, pois expressava o comprometimento      do mesmo para  uma adoração genuína a Deus (Ne 12.44).
Além dos dízimos, a lei mosaica prescrevia outros tipos de contribuições, como era o caso das ofertas das primícias e das ofertas   alçadas (Êx 23.16, 19 e 34.22-26). Essas ofertas deveriam atender ao princípio da proporcionalidade, pois eram dadas segundo a bênção  do Senhor sobre os ofertantes (Dt 16.10). Segundo as normas para essas contribuições, as ofertas das primícias eram especialmente         apresentadas durante a Festa das Semanas, também chamada de Pentecoste ou Festa das Primícias, por ser realizada cerca de 50 dias após a Páscoa e por coincidir com os primeiros frutos da      colheita anual em Israel (Nm 28.26). Parte dessas ofertas eram destinadas para o sustento do pobre, do órfão e da viúva, outra parte à  realização de uma ceia comum e ainda uma terceira parte destinava- se ao sustento dos sacerdotes. Enquanto o dízimo era anual e trienal, as ofertas poderiam ser entregues em várias ocasiões do   ano, especialmente na época das colheitas ou eventos festivos. Assim    como os dízimos, as ofertas     das primícias           também eram              entregues  em reconhecimento       da   soberania e generosidade de Deus para    com a nação de    Israel (Dt 26.1ss). Assim como acontecia com o      dízimo, a entrega das ofertas era acompanhada por grandes celebrações.
Algumas    pessoas     confundem as ofertas    das primícias com o dízimos, mas   o relato   bíblico indica que se tratavam de duas formas  distintas de contribuição na nação de Israel. Embora a oferta das       primícias e os dízimos sejam mantidos lado a lado em alguns textos da Bíblia (Dt 26.1-15), as ofertas deveriam ser entregues várias vezes no ano, ao passo que o dízimo era anual e trienal. Não se deve    ainda confundir as ofertas das primícias com outras ofertas de caráter        mais devocionais             como as ofertas de  libações    (Nm 15.1-15),       ofertas de holocausto,         ofertas de manjares e sacrifícios pacíficos (Lv1-3). Ainda que as ofertas devocionais expressassem gratidão e consagração   a Deus, elas não   tinham   qualquer         propósito econômico.
As ofertas alçadas, ou contribuições esporádicas, eram aquelas     que o próprio Deus movia o coração dos ofertantes para fazê-las.
O povo era levantado (alçado) a contribuir de uma forma extraordinária  para com a obra de Deus,   quer por mera        gratidão ou   por  alguma necessidade específica. Um exemplo desse tipo de oferta encontra-se em Êxodo 25-36, por       ocasião da construção do     tabernáculo. Aquela construção foi divinamente ordenada e providenciaria um local de adoração para o povo de Deus. O tabernáculo         era a tenda da congregação, onde se encontrava a arca do testemunho    e onde Deus encontrava-se com o seu povo por meio do sumo sacerdote (Êx 29.42-3; Nm 17.4). Para a construção do Tabernáculo, o Senhor ordenou que o seu povo ofertasse voluntariamente, pois            os dízimos já tinham a sua aplicação normal na vida da nação. Um   outro exemplo pode ser encontrado nas ofertas de Davi e dos príncipes   para a construção do templo (1Cr 29). Aquelas ofertas resultaram em “grande abundância” que foi dedicada ao Senhor e todos“comeram e beberam, naquele dia, perante o Senhor, com grande  regozijo” (1Cr 29.22).     O princípio básico das ofertas alçadas encontra-se em Êxodo 25.2:“Fala aos filhos de Israel que me tragam oferta; de todo homem cujo coração o mover para isso, dele      recebereis a minha oferta”. Essas   ofertas não       eram compulsórias, mas voluntárias. Os contribuintes  eram todos aqueles cujo coração era especialmente      movido para tal.
Esse mesmo princípio foi enfatizado em Êxodo 35.5 e o resultado foi que “veio todo o homem cujo coração o moveu e cujo espírito o  impeliu e trouxe a oferta ao Senhor para a obra da tenda da congregação, e para todo o seu serviço, e para as vestes sagradas” (Êx 35.21).
Alguns princípios sobre o sistema de contribuição da lei mosaica devem ser corretamente entendidos e enfatizados. Primeiro, ainda      que o propósito imediato dos dízimos era o sustento dos levitas e do santuário, todo o povo de Israel deveria entregá-lo como um       reconhecimento de que o dízimo pertencia ao Senhor (Lv 27.30).
As ofertas também expressavam o reconhecimento da soberania  divina sobre a vida e os sucessos humanos. Ambos eram ordenanças  divinas e a prática das mesmas era sempre em obediência e  gratidão a Deus. Em segundo lugar, os dízimos eram destinados ao         auxílio dos necessitados, especialmente o estrangeiro, o órfão e a    viúva (Dt 14.28,29).
Em terceiro lugar, uma parte tanto dos dízimos quanto das ofertas das    primícias destinava-se à realização de uma refeição nacional onde      todo o Israel, reunido em diferentes cidades, celebrava as bênçãos de Deus sobre a nação (Dt 12.12). Essa refeição tinha o propósito   de celebrar a Deus por suas bênçãos e preservação da vida dos israelitas. Na comunidade pactual de Israel, a contribuição era um        ato de adoração ao Senhor de toda a terra. Em quarto lugar, os dízimos atendiam o princípio da proporcionalidade, pois pela entrega        dos 10% todos davam igualmente. Há que se observar ainda
que essa era uma contribuição sistemática e não esporádica.
Por alguma razão, o montante da contribuição judaica no período intertestamentário e nos primeiros anos da era cristã passou a   ser um imposto per capita de meio siclo por ano.
Esse imposto como aquelas duas dracmas que foram cobradas de Pedro e de Jesus (Mt 17.24). Ele informa que essa dívida era cobrada         não apenas dos judeus da Palestina como também daqueles       que se encontravam a Diáspora. Hoje em dia, muitos judeus piedosos      contribuem com          o dízimo      para propósitos educacionais, religiosos e sociais. Dessa forma, o princípio religioso foi incorporado às normas civis da nação.
Portanto, o dízimo era praticado desde antes de Moíses receber a lei de Deus. Muito tem argumentado que para o cristão ele possui um padrão atemporal, ao invés de ser meramente uma parte da  lei cerimonial do AT, assim como o israelita, devemos reconhecer que somos apenas um mordomo, pois somos apenas peregrinos .
Referências: Teologia Para Vida / Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel e Dicionário Bíblico de Wycliffe.

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