sábado, 16 de março de 2019

O QUE É DISCERNIMENTO



Discernimento é uma prática espiritual que todo crente deve desenvolver no seu relacionamento com o Senhor. O apóstolo Paulo recomendou aos filipenses que eles crescessem em sabedoria e conhecimento para que pudessem escolher as coisas excelentes. Assim, poderiam viver sem culpa e agradar a Deus até a volta de Cristo (Fp l .9-11). Ter sabedoria e conhecimento remete a discernir julgar ou escolher entre duas ou mais opções. O conselho paulino, então, expressa que devemos desenvolver uma reflexão crítica que nos ajude na nossa santificação para sermos melhores servos de Deus e cumprirmos os propósitos divinos na nossa vida.

Praticar o discernimento é reconhecer quando Deus está se comunicando com alguém, ou se é alguma distração. Como escreveu Richard Peace, teólogo e professor de formação espiritual, discernimento é uma maneira para distinguir as diversas vozes, impulsos, conselhos e intuições. Isso não é fácil para aqueles que vivem uma rotina carregada de atividades. A sensibilidade do reconhecimento depende da intimidade que se tem com o Senhor, de quanto se está atento para ouvir e seguir as orientações dadas pelo Espírito Santo (1 Co 2.11 -16). Terão dificuldades em identificar a voz divina aqueles que não buscam a presença do Senhor. O uso do discernimento considera tanto a tomada de decisão em assuntos corriqueiros da vida humana como também o discernimento de espíritos. Há diferentes tipos de discernimentos porque as escolhas também variam.

A passagem de l Coríntios 12.8-10 fala sobre dons espirituais relacionados ao ato de discernir; são eles: sabedoria, conhecimento e discernimento de espíritos. Seguindo a interpretação dos assembleianos brasileiros, como expresso na Declaração de fé das Assembléias de Deus, "o dom da sabedoria é um recurso extraordinário proveniente do Espírito Santo, cuja finalidade é a solução de problemas igualmente extraordinários" (p. 173). É para resolver algo que está além das condições humanas e que só a intervenção divina soluciona. O outro dom, o do conhecimento, é uma compreensão que também só provém de Deus, manifestada pelo Espírito Santo. Da mesma forma é o discernimento de espíritos: só pelo Espírito Santo é possível identificar as imitações malignas. Esses dons apresentados em 1 Coríntios 12 são aqueles relacionados a situações excepcionais que somente a atuação divina pode solucionar, independentemente do esforço ou da inteligência humana.

Nós, que vivemos o período da igreja, temos o privilégio de desfrutar da operação do Espírito Santo no mundo. Podemos ter conhecimento da vontade de Deus porque o Espírito Santo foi dado à igreja e a cada crente para nos guiar em toda a verdade (Jo 16.12-15). Essa atuação é consequência de Pentecostes (At 2). São diversas as implicações dessa prática que banalizam a operação do Espírito Santo. Fica no esquecimento que Deus deseja interagir com cada pessoa, e o cristão não é incentivado a submeter-se e a desenvolver um relacionamento com Deus. Corre-se o risco de reduzir a prática do discernimento a emoções. Cria-se a imagem de um Deus oferecedor de coisas materiais.
Alguns pontos podem servir como referência para avaliar se o discernimento diante de determinada situação é de providência divina. Um bom indicador é observar se a mensagem que recebemos é compatível com a mensagem da Bíblia. Outra maneira de avaliar a mensagem recebida é conversando com pessoas de confiança na igreja que frequentamos ou outros crentes.
Discernimento é para a vida cristã como um todo, e não só para momentos de decisão ou discernimento dos espíritos malignos. Portanto, ter bom discernimento e direção está relacionado a viver na presença de Deus. O relacionamento íntimo se desenvolve por meio da oração, do conhecimento e prática da sua Palavra (Sl 119.105), deixando que nossa mente seja guiada pelo Espírito Santo (1 Pe 5.7) e pedindo por sabedoria quando ela for necessária (Tg 1.5, 6).

A base do discernimento pessoal está apresentada no ensino de Paulo. Com base em Romanos 12.1,2, é preciso ter compromisso com Deus, a mente renovada e uma vida em comunhão com uma igreja. Dessa forma, a vontade de Deus pode ser conhecida. Esses são elementos imprescindíveis para a vida cristã, não só para discernir o bem do mal.

Ter compromisso com Deus significa entregar a vida ao Senhor. Esse pensamento paulino é identificado por A. W. Tozer em "Como o Senhor guia". Segundo o autor, para ter discernimento, é fundamental que o crente se dedique à glória de Deus e se entregue ao senhorio de Jesus Cristo. A natureza humana é pecaminosa, "porque todos pecaram e destituídos estão de Deus" (Rm 3.23). Portanto, o primeiro passo é ter consciência dos pecados e confessá-los ao Senhor. Devemos, então, ter uma vida santa e nos oferecer por completo ao Senhor - física espiritual e emocionalmente, isso é o culto racional.

Essa atitude de ter compromisso com Deus leva à transformação de vida. Antes era o pecado que dominava a pessoa, mas, em Cristo, o pensamento e as emoções são trabalhados por Deus (Rm 8.9, 10). Aqueles que não se dedicam à santificação não são capazes de andar segundo o Espírito de Deus porque não é esforço humano que transforma, mas Cristo (Rm 8.1-4). Estar em Cristo é não viver pelo pecado, mas sim ser guiado pelo Espírito Santo.

A transformação é a reversão do intelecto corrompido, porque a mente degenerada não consegue avaliar a vontade de Deus. Pela fé em Cristo, a vida pecaminosa é transformada em uma vida reta. Assim, a renovação da mente significa deixar o pecado e viver de acordo com os padrões divinos, tendo em vista não o presente, mas a era vindoura. O resultado é o cristão usar seu corpo para servir a Cristo.

Tendo uma vida dedicada ao Senhor com uma mente guiada pelo Espírito, o cristão ainda precisa estar ligado a outros crentes. Estar em comunhão com a igreja, ou o corpo de Cristo, significa cuidar dos membros (Rm 12.4), aprender a viver em submissão aos outros (Rm 12.5), sobretudo à liderança. Estar em comunhão com os irmãos e as irmãs ajuda a entender a operação divina por meio do Espírito Santo e a esclarecer a vontade de Deus.

Nos versos 1 e 2 de Romanos 12, vemos que o discernimento da vontade de Deus para nossa vida é resultado da atividade mental humana. O culto racional dispensa "truques mágicos" e não pode ser reduzido a emoções. Tendo um relacionamento sólido com o Senhor, o Espírito Santo trabalha em nossa vida por completo, e assim somos capazes de reconhecer o que é bom da perspectiva divina.

As Escrituras, por meio da operação do Espírito Santo, desempenham um papel importante na vida humana (Cl 3.16) e servem de controle para a prática do discernimento. Por meio delas, aprendemos sobre a salvação, Deus e sua revelação em Jesus, e nossa fé é fortalecida. O texto bíblico é a referência do cristão, e nenhuma mensagem que lhe é entregue está acima do texto inspirado pelo Espírito Santo. Isso aponta para as limitações do discernimento humano. Embora tenhamos a capacidade de avaliar o que é moralmente certo ou errado, as mensagens recebidas são uma garantia interna de que Deus está conosco e não podem ser impostas as outros como regra.

A oração é uma ferramenta fundamental para o discernimento, por se tratar de relacionamento e comunicação com Deus. Como se ora, no entanto, precisa ser avaliado. Se o objetivo é a busca por melhor compreensão, a oração não deve ser intercessora ou peditória. O discernimento pode ser tanto pessoal quanto coletivo. Por pertencer a uma igreja local, muitas vezes surgem ocasiões em que é preciso decidir sobre algo que afetará todos os irmãos e irmãs. Quando discernimos a voz de Deus, é o momento de responder a ela. Essa atitude reflete nosso interesse em nos relacionarmos com o Senhor. São diversas as maneiras como podemos responder: com louvor, arrependimento, quebrantamento, confissão de pecado, agradecimento e mudança de atitude. Essa atitude, então, mostra que estamos abertos a viver e ser transformados conforme a vontade de Deus, e não conforme a nossa própria vontade.

No contexto evangélico brasileiro, em que predominam os que acreditam na manifestação sobrenatural dos dons espirituais, é preciso tomar cuidado para não entender o discernimento como uma prática mágica. Esse tipo de atitude transfere o discernimento a determinadas pessoas que seriam capazes de distinguir as mensagens divinas das demoníacas ou receber informações privilegiadas sobre os eventos. Essa crença cultural, então, pode ser levada para a igreja, e os crentes passam a nomear pessoas oportunidade para se ficar em silêncio na presença do Senhor.

Bibliografia: Livro de apoio do trimestre EBD -Esequias Soares &
Daniele Soares – Batalha espiritual.

           

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