"A ociosidade
produz a ignorância, o trabalho gera o conhecimento." (Jean-Paul
Migne). Para ser mais exata, o ocioso é aquela pessoa pouco produtiva, que não
se dispõe a fazer nada, e por vezes é incapaz de iniciar um novo projeto. Ficar
ocioso não trás benefícios ao contrário, gera angustia, e esta é a causa de
muitos males. O idoso, por exemplo, quando desocupado, principalmente quando
surge à aposentadoria, tende a se sentir improdutivo. Daí, os sentimentos de
inatividade, preguiçoso e de inutilidade vêm à tona, podendo ser comparado a
uma máquina que não está mais em funcionamento. Como já dizia a velha frase:
Mente vazia é uma oficina para pensamentos negativos. A pessoa fica mais
propicia a cometer coisas que fazem mal a alma. Não tem como evoluir sem
produção, faz-se necessário se ocupar, mesmo que seja com tarefas das mais
simples, tais como: atividade física, artesanato, escrever, criar blog, ler um
bom livro, estudar, praticar esportes, ou ainda, fazer algum trabalho
voluntário. O sociólogo italiano Domênico , ficou conhecido, no início do
século, por discorrer sobre a importância de se valorizar o tempo ocioso, ele
chamou de “ócio criativo”, onde lazer, estudo e trabalho se confundem
aumentando a qualidade de vida e a satisfação com os afazeres. Neste conceito,
foram estudas as várias formas de preencher a ociosidade com atividades que
propusessem a satisfação de sentir-se útil. Contarei uma história que ilustra
muito bem esta ideia: Há cinco anos, conheci uma mulher de 76 anos, que estava
depressiva justamente por não ter uma ocupação, perguntei o que ela gostava de
fazer e mencionou que quando era jovem adorava costurar. Então, lhe propus que
começasse a fazer colchas de retalhos e ela concordou. Depois de um período
soube que a idosa estava feliz e satisfeita com tantos pedidos de costura, ou
seja, além de ocupar o tempo ainda estava ganhando dinheiro. Isto representa
que, independente da idade, precisamos aproveitar as oportunidades, otimizar o
tempo, preencher o vazio da alma, valorizar os pequenos detalhes e buscar o que
te faz bem. Somente assim, é possível encontrar equilíbrio, sentimento de bem
estar, motivação e com certeza qualidade de vida. Enfim, mexa-se, busque
coisas que possam fazer você sentir-se vivo, faça valer a pena a tua estadia na
terra!
Tédio e ócio,
apesar de angustiantes, podem fazer bem para criatividade e reflexão
Para especialistas, momentos de desocupação
são as oportunidades para sairmos do 'automático'
Aguardar na fila do supermercado, esperar o
elevador ou ficar trancado no trânsito costumam ser experiências bastante
relacionadas ao tédio. Esse sentimento é um dos poucos que o ser humano
vivencia e busca fugir a qualquer custo. Momentos de desocupação como esses,
incluindo aquele tempo ocioso no sofá de casa, podem parecer angustiantes. Mas,
apesar de desagradáveis, experiências assim beneficiam nossa criatividade,
promovem reflexões sobre a vida e favorecem o aparecimento de soluções
para o cotidiano.
O tédio é descrito, por muitos, como uma
experiência que estressa e angustia. "É quando nos defrontamos com o
'nada'. O tédio nos faz ficar diante do desconhecido e do que a gente não controla.
Isso não é prazeroso", diz Hélio Deliberador, professor do departamento de
psicologia social da PUC-SP.
Não há um consenso sobre o que, de fato, é o
tédio. Muitos estudiosos concordam que é um sentimento resultante de quando os
estímulos que o mundo oferece não interessam. Como consequência, a mente
tem dificuldade em manter o foco. Temos a sensação de que o tempo
passa devagar.
Mais do que uma pedra no sapato, a forma como
lidamos com o tédio pode prejudicar nossa vida. Estudos feitos ao longo das décadas
mostram que funcionários entediados costumam ter baixa performance, raiva,
estresse, insatisfação, faltas e acidentes no trabalho. Já na vida acadêmica, o
tédio também gera baixo desempenho e evasão escolar.
Mas, por detrás desta cortina cinza sem
graça, os momentos de tédio no cotidiano escondem uma janela de possibilidades.
Várias pesquisas mostram que ficar entediado pode ajudar você a ficar
mais criativo - não apenas no sentido artístico, mas de desenvolver soluções
para obstáculos do dia a dia. Ao deixarmos vazio o palco da mente, novos
atores surgem para contracenar.
"O tédio está ligado à resolução de
problemas, o que é uma forma de criatividade. Há muitas pesquisas mostrando
que, quando o cérebro 'desliga', como é o caso do sono e do tédio, a área de
resolução de problemas segue trabalhando", diz Peter Toohey, professor da
Universidade de Calgary, no Canadá, e autor do livro Boredom: A Lively History (Tédio:
Uma História Animada, em tradução livre).
Pesquisadoras do departamento de psicologia
da Universidade Central de Lancashire, no Reino Unido, por exemplo, publicaram
um artigo em
2014 no qual verificaram, em dois estudos, que pessoas entediadas se tornavam
mais criativas.
Na pesquisa, um grupo de pessoas fazia uma
atividade super entediante - copiar números de uma lista telefônica - para
depois criar diferentes usos para copos plásticos, um método padrão aplicado
para testar a criatividade das pessoas. Eles tiveram mais ideias do que o grupo
que não fez a atividade chatérrima.
Para checar os resultados, uma segunda rodada
do estudo foi feita com outros voluntários, incluindo agora um terceiro grupo
para fazer um exercício ainda mais chato: ler a lista telefônica. E foram
justamente eles que criaram mais usos para os copinhos de plástico.
Erika Christakis, autora do livro The
Importance of Being Little (A Importância de Ser Pequeno, em
tradução livre), sobre educação infantil, defende que pais não devem preencher
toda a agenda do filho com atividades extracurriculares. Pelo contrário, ela
argumenta que os pequenos precisam viver momentos sem nada para fazer. "O
tédio pode ser um grande amigo da imaginação. Às vezes, quando as crianças
parecem entediadas, é porque elas ainda não tiveram tempo de se engajar em
alguma coisa", disse em entrevista ao
site NPR.
“Faz sentido a ideia de que precisamos ficar
livres das demandas do dia a dia a fim de encontrar tempo para nossos
objetivos”, diz ao E+ John Eastwood,
professor de psicologia da Universidade de York, no Reino Unido, e chefe do
Laboratório do Tédio, um grupo de estudos com pesquisadores especializados no
sentimento.
Microtédio. Em uma época de
smartphones e tecnologias de pequeno porte, nada mais compreensível do que
adquirir importância uma versão reduzida do tédio: o microtédio. Ele aparece
quando você tem apenas alguns segundos ou minutos desocupado - no intervalo
comercial, no ônibus ou sentado no vaso do banheiro.
Você sabe bem qual é esse momento.
Provavelmente, aproveita para conferir o celular, o tablet ou as redes
sociais.
Em um artigo,
Gabriel Cunha Nunes, doutorando em psicanálise e cultura na PUC-Rio, analisa o
fenômeno como uma evolução do "ler um jornal para ocupar-se". O
psicólogo argumenta que não há nada de errado em evitar o tédio, mas que
também é importante não lutar contra. "Uma fila de banco pode ser o único
momento do seu dia em que você possa entrar em contato consigo", escreve.
"É difícil tirar férias da vida, então
esses pequenos momentos é que nos fazem refletir. O problema de recursos como
smartphones é usá-los sem significado, a ponto de o tempo passar e sentirmos
que continuamos a mesma pessoa", provoca o psicólogo, em entrevista ao E+.
Celulares se tornam próteses, que carregamos
ao longo do dia como extensão de nossas mãos. Aos poucos, incorporam-se a quem
somos. "A mercadoria é encharcada de sentidos. Hoje, o valor está no objeto, não está na gente. Ao ficarmos
sozinhos, não temos mercadorias para nos inundar de sentidos, então a experiência de ficar sem fazer nada é
torturante", diz Kátia Flores Pinheiro, professora de psicologia
social da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, e estudiosa do ócio,
tempo livre e trabalho.
Tédio e ócio fazem
bem? "O
tédio, assim como outros sentimentos, tem um propósito", escrevem as
pesquisadoras da Universidade Central de Lancashire. O objetivo maior do
cérebro ao provocá-lo seria uma súplica ao universo: "por favor,
estimule-me". Ou mesmo um pedido de descanso, em meio às exigências do
cotidiano.
"O cérebro precisa 'parar' de vez em
quando. Se usamos um motor o tempo todo, ele desgasta mais rápido. Usando essa
metáfora, se você ocupa seus sentidos o tempo todo, você se predispõe ao
estresse, a fobias e até mesmo à depressão", diz Deliberador.
Em um artigo sobre
a relação entre tédio e criatividade para a conceituada Harvard
Business Review, o professor David Burkus, autor do livro Under
New Management (Sob Nova Direção, sem versão brasileira),
sugere o engajamento em atividades tediosas antes de começar o dia no trabalho,
como checar e-mails, fazer xerox ou preencher relatórios. Tudo para enganar o
cérebro e torná-lo mais criativo.
Se pensarmos pelo viés
da filosofia, o tédio pode nos ajudar a chegar ao ócio. No Brasil, o ócio é
comumente visto como algo negativo, ligado à preguiça. No entanto, é ao
deixarmos de cumprir obrigações que conseguimos, por fim, focar em nós
mesmos.
"Na modernidade, com a produção
industrial e a mudança da lógica do trabalho humano, o tempo desocupado que se
usava para refletir e buscar sentido na existência mundana fica de lado.
Cria-se um novo tempo: o tempo livre, em contraponto ao tempo do
trabalho", diz Kátia, da Universidade Estácio de Sá.
Hoje, diz a psicóloga, nosso lazer vira
produto. E nosso tempo livre tem que render, seja na Netflix, no cinema, em
livros, estudos ou exercícios. Se não preenchemos nosso fim de semana com uma
lista de atividades, ficamos frustrados.
Isso seria resultado de uma lógica na qual
estamos condicionados a sentir realização apenas se produzimos ou consumimos -
o oposto do que tédio e ócio proporcionam como experiência. E é também por isso
que os evitamos.
"O ócio é coisa séria. É o momento em
que ficamos fora do tempo do trabalho e do lazer de consumo. A gente para, olha
para o lado e pensa nas pessoas, na morte, no sofrimento, na solidão, sobre nós
mesmos. Essas reflexões despertam angústia no indivíduo que não está
acostumado. Mas fazem parte da experiência humana", acrescenta a
professora. No fim das contas, a completa falta de respostas diante da vida é o
que torna o ser humano quem ele é.
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