sábado, 16 de fevereiro de 2019

Tentação



         

          Desde a queda no Jardim do Éden, a tentação tem sido uma parte constante, incessante da vida humana. Os homens têm tentado evitar e resistir a ela com dor auto-infligida para tornar-se desconfortável e, presumivelmente, humilde, ou isolando-se das outras pessoas e do conforto físico. Mas nenhuma pessoa jamais encontrou um lugar ou uma circunstância que pode torná-lo a salvo da tentação. Uma pessoa  batizada nas águas não está livre para sempre do poder do diabo e da tentação. O batismo não afoga o diabo.
          Há certo paralelismo entre os quarenta anos da peregrinação de Israel no deserto e os quarenta dias e as quarenta noites em que o Senhor Jesus jejuou no lugar ermo. A diferença é que Israel não passou no teste, e Jesus foi o vitorioso sobre Satanás. Esses dois cenários têm a ver com nossas escolhas e atitudes na jornada de nossa vida espiritual.
          Os termos “tentação” e “tentar” na Bíblia aplicam-se tanto no campo secular como no campo religioso. Vamos analisar o assunto partindo dos significados e sentidos dessas palavras, levando em consideração o contexto das várias passagens bíblicas.
          O substantivo “tentação” significa literalmente “teste, provação, instigação”. Na contenda paradigmática de Refidim, no deserto, temos o significado dessa palavra: “E chamou o nome daquele lugar Massá e Meribá, por causa da contenda dos filhos de Israel, e porque tentaram ao SENHOR, dizendo: Está o SENHOR no meio de nós, ou não?” (Êx 17.7). O vocábulo hebraico massá significa “tentação”, e meribá quer dizer “contenda”. Os israelitas estavam testando o próprio Deus.
          Ninguém deve testar a Javé, o Deus de Israel, pois o nosso dever é obedecê-lo (Dt 6.16). O que aconteceu nessa contenda teve a reprovação divina, de modo que serviu como um paradigma daquilo que não se deve fazer (Sl 95.8,9). Testar Deus é questionar sua fidelidade no pacto e duvidar de sua autoridade (Sl 78.41,56). Entendemos que tentar o Criador reflete a nossa descrença nEle, e a Bíblia é contra essa prática (Is 7.12; At 15.10).
          A tentação é algo próprio do ser humano: “Não veio sobre vós tentação, senão humana [...]” (1 Co 10.13). Tiago nos diz que “[…] cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência” (Tg 1.14). É bom acrescentar também que ser tentado não é pecado, o pecado está em ceder a tentação (Mt 6.13; 26.41).
          O agente da tentação não é Deus. Tiago nos assevera isso: “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta” (Tg 1.13). O diabo é quem aparece na Bíblia como o tentador, aquele que induz o homem ao pecado (Mt 4.3; Lc 4.13 ).
          Por mais forte que seja a tentação contra um crente, ela pode ser vencida (Tg 4.7). Deus não permite que sejamos tentados além das nossas forças: “[...] fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar” (1 Co 10.13).
          Alguns judeus arrazoavam que tendo Deus criado tudo, devia também ter criado o impulso do mal, e considerando que é o impulso do mal que tenta o homem ao pecado. Em última análise é Deus que o criou, e por isso é o autor e responsável pelo mal (BARCLAY, sd. p. 52). Tiago refuta essa ideia afirmando que “Deus não pode ser tentado pelo mal, e ele mesmo a ninguém tenta” (Tg 1.13). Em vez de acusar Deus pelo mal, o homem deve assumir a responsabilidade pessoal dos seus pecados (Lm 3.39). “O homem faz de vítima a si mesmo” (CHAMPLIN, 2004, p. 24). É a sua própria cobiça ou concupiscência que o atrai e o seduz: “Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência” (Tg 1.14,15). A palavra “concupiscência” no grego “epithumia”, denota “desejo forte, desordenado” de qualquer tipo seja bom ou ruim, sendo frequentemente especificado por algum adjetivo. A palavra é usada em referência a um desejo bom somente em (Lc 22.15; Fp 1.23; 1 Ts 2.17), em todos os outros lugares têm um sentido negativo referindo se aos maus desejos que estão prontos para se expressar (Rm 13.14; Gl 5.16,24; Ef 2.3; 2 Pe 2.18; 1 Jo 2.16) (VINE, 2002, p. 487 – acréscimo nosso). Tiago vê o pecado não apenas como um ato, mas como um processo em quatro estágios.
          O primeiro passo da tentação é a atração: “Mas cada um é tentado, quando atraído” (Tg 1.14-a). palavra “atração” significa: “sedução, sentimento de interesse, curiosidade” (HOUAISS, 2001, p. 338). Isto significa dizer que jamais seremos tentados por aquilo que não nos sentimos atraídos.
          A segunda coisa destacada pelo apóstolo Tiago na tentação é o engodo. A expressão “engodo” quer dizer: “isca usada para atrair animais; chamariz” (HOUAISS, 2001, p. 1149). O simbolismo, talvez seja o da pesca.
          A terceira fase da tentação é a concepção. Esta fase é bastante perigosa, pois aproxima o homem da queda que é o próximo passo. O verbo “conceber” quer dizer: “ser fecundado por, engravidar, gerar, acalentar” (HOUAISS, 2001, p. 1149).
          Este é o último estágio da tentação. Quando a pessoa não procura resistir as demais fases da tentação, não conseguirá evitar o passo seguinte: a consumação. O verbo “consumar” quer dizer: “levar a termo; concluir, rematar; cometer, praticar” (HOUAISS, 2001, p. 815).
          No campo espiritual Deus testa os seus escolhidos para um propósito específico. O exemplo clássico é a passagem do sacrifício de Isaque: “E aconteceu, depois destas coisas, que tentou Deus a Abraão” (Gn 22.1). A finalidade disso é revelar ou desenvolver o nosso caráter (Êx 20.20; Jo 6.6).
          A tentação de Jesus no deserto é o primeiro acontecimento registrado de sua história depois do batismo por João Batista no rio Jordão. O deserto é um lugar onde os seres humanos percebem a grandeza de Deus e a fragilidade humana; é um lugar de profundo silêncio para meditação e oração, onde há vastidão de espaço para ouvir a voz de Deus. Foi no deserto que grandes homens de Deus foram preparados para o serviço sagrado, como Moisés (At 7.30-33) e Elias (1 Rs 19.4-10).
               O deserto da Judéia é uma área quente, árido e desolado que se estende a oeste do Mar Morto quase a Jerusalém, e fica a cerca de 35 milhas de comprimento e 15 milhas de largura. Satanás conheceu Adão no paraíso do Éden, onde tudo de bom foi fornecido, e nada prejudicial existiu. Adão perdeu sua batalha com Satanás, enquanto na situação perfeita. O Segundo Adão conheceu Satanás no desolado deserto , onde "Ele estava com as feras" (Marcos 1:13) e ficou sem comer por 40 dias (Lucas 4: 2). No entanto, o que o primeiro Adão perdeu em um ambiente ideal o Segundo Adão ganhou de volta em um ambiente terrivelmente imperfeita. Que melhor prova de que pode haver falha espiritual e moral não são causados por circunstâncias, mas pelo caráter e da resposta de quem está tentado?
          Vencer as tentações é um combate pessoal, ninguém tem autoridade de agir em seu lugar, porque se trata de uma luta interna com o externo. Deus espera uma atitude positiva de nós frente as tentações. Vencida a provação Deus envia os seus anjos para nos confortar (V11).

          Satanás se apresentou a Jesus de forma visível, mas os detalhes são desconhecidos. Essa tentação foi literal, e isso se evidencia pelos detalhes da própria narrativa. Rejeitamos, pois, a ideia de uma tentação subjetiva, simbólica ou visionária. Com certeza, Jesus mesmo contou essa experiência aos seus discípulos.
          Mateus e Lucas registraram as últimas investidas de Satanás contra Jesus, e elas foram o ápice dessas tentações. Na verdade, Jesus foi tentado em todos os quarenta dias: “quarenta dias foi tentado pelo diabo” (Lc 4.2). E continuou sendo tentado durante todo o tempo de seu ministério (Lc 22.28; Hb 4.15).
          O ataque diabólico foi nas áreas mais sensíveis do ser humano: “a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1 Jo 2.16). Mesmo com toda a sua habilidade maligna, foi grande e devastadora a derrota de Satanás (v.11). Ele foi vencido pelo poder da Palavra de Deus.
          A presença de Cristo conosco não é apenas como a de um companheiro externo, mas é uma força real e divina, revolucionando nossa natureza e tornando-nos como Ele é. De fato, o propósito final e último de Cristo é que o crente seja reproduzido segundo a sua própria semelhança, por dentro e por fora.
          Esta transformação deve ser uma transformação interior. É uma transformação de nossa vida, de nossa natureza segundo a natureza dEle, segundo a semelhança dEle. Como é maravilhosa a paciência, como é maravilhoso o poder que toma posse da alma e realiza a vontade de Deus – uma transformação absoluta segundo a maravilhosa santidade do caráter de Jesus! Nosso coração fica desconcertado quando pensamos em tal natureza, quando contemplamos tal caráter. Este é o propósito de Deus para você e para mim.
          MEIOS PARA VENCER AS TENTAÇÕES Orando e vigiando (Mt 26.41); Renunciando a si mesmo (Gn 39.7-12); Tomando toda a armadura de Deus (Ef 6.10-18); Refugiando-se em Jesus (Hb 2.18); Evitando a ociosidade (2 Sm 11.1,2; 2 Pe 1.8-10); Sujeitando-se a Deus (Tg 4.7-a); Evitando tudo que possa levar a tentação (Pv 27.12; 1 Ts 5.22); Resistindo ao Diabo (Tg 4.7-b); Lendo e meditando na Palavra de Deus (Js 1.7,8); Vivendo cheio do Espírito Santo (Ef 5.18); Andando em Espírito (Gl 5.16); Vivendo em santidade (Ef 4.22-25: 1 Pe 1.16); Ocupando a mente com o que é santo (Fp 4.8; Cl 3.2); Manifestando o fruto do Espírito (Gl 5.22,23).
          Diante dos fatos aqui expostos, aprendemos a não subestimar a força e os ardis de Satanás e seus demônios, pois ele ousou tentar o próprio Filho de Deus. Adão foi testado e não passou no teste (Gn 3.11,12). Da mesma forma, Israel foi reprovado logo no limiar de sua história como nação (Dt 9.12). Mas Jesus foi aprovado, glória a Deus! (At 2.22).

          Referências:  JOHN MacArthur -COMENTÁRIO DO NOVO ESTAMENTO;Lições       do 1º trimestre de 2019 – Esequias Soares; Igreja Evangélica Assembleia de       Deus      em Pernambuco Superintendência das Escolas Bíblicas Dominicais Pastor Presidente: Aílton José Alves.

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