Desde
a queda no Jardim do Éden, a tentação tem sido uma parte constante, incessante
da vida humana. Os homens têm tentado evitar e resistir a ela com dor
auto-infligida para tornar-se desconfortável e, presumivelmente, humilde, ou
isolando-se das outras pessoas e do conforto físico. Mas nenhuma pessoa jamais
encontrou um lugar ou uma circunstância que pode torná-lo a salvo da tentação.
Uma pessoa batizada nas águas não está
livre para sempre do poder do diabo e da tentação. O batismo não afoga o diabo.
Há
certo paralelismo entre os quarenta anos da peregrinação de Israel no deserto e
os quarenta dias e as quarenta noites em que o Senhor Jesus jejuou no lugar
ermo. A diferença é que Israel não passou no teste, e Jesus foi o vitorioso
sobre Satanás. Esses dois cenários têm a ver com nossas escolhas e atitudes na
jornada de nossa vida espiritual.
Os
termos “tentação” e “tentar” na Bíblia aplicam-se tanto no campo secular como
no campo religioso. Vamos analisar o assunto partindo dos significados e
sentidos dessas palavras, levando em consideração o contexto das várias
passagens bíblicas.
O
substantivo “tentação” significa literalmente “teste, provação, instigação”. Na
contenda paradigmática de Refidim, no deserto, temos o significado dessa
palavra: “E chamou o nome daquele lugar Massá e Meribá, por causa da contenda
dos filhos de Israel, e porque tentaram ao SENHOR, dizendo: Está o SENHOR no
meio de nós, ou não?” (Êx 17.7). O vocábulo hebraico massá significa
“tentação”, e meribá quer dizer “contenda”. Os israelitas estavam testando o
próprio Deus.
Ninguém
deve testar a Javé, o Deus de Israel, pois o nosso dever é obedecê-lo (Dt
6.16). O que aconteceu nessa contenda teve a reprovação divina, de modo que
serviu como um paradigma daquilo que não se deve fazer (Sl 95.8,9). Testar Deus
é questionar sua fidelidade no pacto e duvidar de sua autoridade (Sl 78.41,56).
Entendemos que tentar o Criador reflete a nossa descrença nEle, e a Bíblia é
contra essa prática (Is 7.12; At 15.10).
A
tentação é algo próprio do ser humano: “Não veio sobre vós tentação, senão
humana [...]” (1 Co 10.13). Tiago nos diz que “[…] cada um é tentado, quando
atraído e engodado pela sua própria concupiscência” (Tg 1.14). É bom
acrescentar também que ser tentado não é pecado, o pecado está em ceder a
tentação (Mt 6.13; 26.41).
O
agente da tentação não é Deus. Tiago nos assevera isso: “Ninguém, sendo
tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal,
e a ninguém tenta” (Tg 1.13). O diabo é quem aparece na Bíblia como o tentador,
aquele que induz o homem ao pecado (Mt 4.3; Lc 4.13 ).
Por
mais forte que seja a tentação contra um crente, ela pode ser vencida (Tg 4.7).
Deus não permite que sejamos tentados além das nossas forças: “[...] fiel é
Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará
também o escape, para que a possais suportar” (1 Co 10.13).
Alguns
judeus arrazoavam que tendo Deus criado tudo, devia também ter criado o impulso
do mal, e considerando que é o impulso do mal que tenta o homem ao pecado. Em
última análise é Deus que o criou, e por isso é o autor e responsável pelo mal
(BARCLAY, sd. p. 52). Tiago refuta essa ideia afirmando que “Deus não pode ser
tentado pelo mal, e ele mesmo a ninguém tenta” (Tg 1.13). Em vez de acusar Deus
pelo mal, o homem deve assumir a responsabilidade pessoal dos seus pecados (Lm
3.39). “O homem faz de vítima a si mesmo” (CHAMPLIN, 2004, p. 24). É a sua
própria cobiça ou concupiscência que o atrai e o seduz: “Mas cada um é tentado,
quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência” (Tg 1.14,15). A
palavra “concupiscência” no grego “epithumia”, denota “desejo forte,
desordenado” de qualquer tipo seja bom ou ruim, sendo frequentemente
especificado por algum adjetivo. A palavra é usada em referência a um desejo
bom somente em (Lc 22.15; Fp 1.23; 1 Ts 2.17), em todos os outros lugares têm
um sentido negativo referindo se aos maus desejos que estão prontos para se
expressar (Rm 13.14; Gl 5.16,24; Ef 2.3; 2 Pe 2.18; 1 Jo 2.16) (VINE, 2002, p.
487 – acréscimo nosso). Tiago vê o pecado não apenas como um ato, mas como um
processo em quatro estágios.
O primeiro passo da tentação é a
atração: “Mas cada um é tentado, quando atraído” (Tg 1.14-a). palavra “atração”
significa: “sedução, sentimento de interesse, curiosidade” (HOUAISS, 2001, p.
338). Isto significa dizer que jamais seremos tentados por aquilo que não nos
sentimos atraídos.
A segunda coisa destacada pelo apóstolo
Tiago na tentação é o engodo. A expressão “engodo” quer dizer: “isca usada para
atrair animais; chamariz” (HOUAISS, 2001, p. 1149). O simbolismo, talvez seja o
da pesca.
A terceira fase da tentação é a
concepção. Esta fase é bastante perigosa, pois aproxima o homem da queda que é
o próximo passo. O verbo “conceber” quer dizer: “ser fecundado por, engravidar,
gerar, acalentar” (HOUAISS, 2001, p. 1149).
Este é o último estágio da tentação.
Quando a pessoa não procura resistir as demais fases da tentação, não
conseguirá evitar o passo seguinte: a consumação. O verbo “consumar” quer
dizer: “levar a termo; concluir, rematar; cometer, praticar” (HOUAISS, 2001, p.
815).
No
campo espiritual Deus testa os seus escolhidos para um propósito específico. O
exemplo clássico é a passagem do sacrifício de Isaque: “E aconteceu, depois
destas coisas, que tentou Deus a Abraão” (Gn 22.1). A finalidade disso é
revelar ou desenvolver o nosso caráter (Êx 20.20; Jo 6.6).
A
tentação de Jesus no deserto é o primeiro acontecimento registrado de sua
história depois do batismo por João Batista no rio Jordão. O deserto é um lugar
onde os seres humanos percebem a grandeza de Deus e a fragilidade humana; é um
lugar de profundo silêncio para meditação e oração, onde há vastidão de espaço
para ouvir a voz de Deus. Foi no deserto que grandes homens de Deus foram
preparados para o serviço sagrado, como Moisés (At 7.30-33) e Elias (1 Rs
19.4-10).
O deserto da Judéia é
uma área quente, árido e desolado que se estende a oeste do Mar Morto quase a
Jerusalém, e fica a cerca de 35 milhas de comprimento e 15 milhas de largura. Satanás
conheceu Adão no paraíso do Éden, onde tudo de bom foi fornecido, e nada
prejudicial existiu. Adão perdeu sua batalha com Satanás, enquanto na situação
perfeita. O Segundo Adão conheceu Satanás no desolado deserto , onde "Ele
estava com as feras" (Marcos 1:13) e ficou sem comer por 40 dias (Lucas 4:
2). No entanto, o que o primeiro Adão perdeu em um ambiente ideal o Segundo
Adão ganhou de volta em um ambiente terrivelmente imperfeita. Que melhor prova
de que pode haver falha espiritual e moral não são causados por circunstâncias,
mas pelo caráter e da resposta de quem está tentado?
Vencer as tentações é um combate pessoal, ninguém tem
autoridade de agir em seu lugar, porque se trata de uma luta interna com o
externo. Deus espera uma atitude positiva de nós frente as tentações. Vencida a
provação Deus envia os seus anjos para nos confortar (V11).
Satanás
se apresentou a Jesus de forma visível, mas os detalhes são desconhecidos. Essa
tentação foi literal, e isso se evidencia pelos detalhes da própria narrativa.
Rejeitamos, pois, a ideia de uma tentação subjetiva, simbólica ou visionária.
Com certeza, Jesus mesmo contou essa experiência aos seus discípulos.
Mateus
e Lucas registraram as últimas investidas de Satanás contra Jesus, e elas foram
o ápice dessas tentações. Na verdade, Jesus foi tentado em todos os quarenta
dias: “quarenta dias foi tentado pelo diabo” (Lc 4.2). E continuou sendo
tentado durante todo o tempo de seu ministério (Lc 22.28; Hb 4.15).
O
ataque diabólico foi nas áreas mais sensíveis do ser humano: “a concupiscência
da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1 Jo 2.16). Mesmo
com toda a sua habilidade maligna, foi grande e devastadora a derrota de
Satanás (v.11). Ele foi vencido pelo poder da Palavra de Deus.
A
presença de Cristo conosco não é apenas como a de um companheiro externo, mas é
uma força real e divina, revolucionando nossa natureza e tornando-nos como Ele
é. De fato, o propósito final e último de Cristo é que o crente seja
reproduzido segundo a sua própria semelhança, por dentro e por fora.
Esta
transformação deve ser uma transformação interior. É uma transformação de nossa
vida, de nossa natureza segundo a natureza dEle, segundo a semelhança dEle.
Como é maravilhosa a paciência, como é maravilhoso o poder que toma posse da
alma e realiza a vontade de Deus – uma transformação absoluta segundo a maravilhosa
santidade do caráter de Jesus! Nosso coração fica desconcertado quando pensamos
em tal natureza, quando contemplamos tal caráter. Este é o propósito de Deus
para você e para mim.
MEIOS
PARA VENCER AS TENTAÇÕES Orando e vigiando (Mt 26.41); Renunciando a si mesmo
(Gn 39.7-12); Tomando toda a armadura de Deus (Ef 6.10-18); Refugiando-se em
Jesus (Hb 2.18); Evitando a ociosidade (2 Sm 11.1,2; 2 Pe 1.8-10);
Sujeitando-se a Deus (Tg 4.7-a); Evitando tudo que possa levar a tentação (Pv
27.12; 1 Ts 5.22); Resistindo ao Diabo (Tg 4.7-b); Lendo e meditando na Palavra
de Deus (Js 1.7,8); Vivendo cheio do Espírito Santo (Ef 5.18); Andando em
Espírito (Gl 5.16); Vivendo em santidade (Ef 4.22-25: 1 Pe 1.16); Ocupando a
mente com o que é santo (Fp 4.8; Cl 3.2); Manifestando o fruto do Espírito (Gl
5.22,23).
Diante
dos fatos aqui expostos, aprendemos a não subestimar a força e os ardis de
Satanás e seus demônios, pois ele ousou tentar o próprio Filho de Deus. Adão
foi testado e não passou no teste (Gn 3.11,12). Da mesma forma, Israel foi
reprovado logo no limiar de sua história como nação (Dt 9.12). Mas Jesus foi
aprovado, glória a Deus! (At 2.22).
Referências: JOHN MacArthur
-COMENTÁRIO
DO NOVO ESTAMENTO;Lições do 1º trimestre de 2019 – Esequias Soares;
Igreja Evangélica Assembleia de Deus
em Pernambuco Superintendência das
Escolas Bíblicas Dominicais Pastor Presidente:
Aílton José Alves.
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