CREMOS
Professamos
e ensinamos que o pecado é a transgressão da Lei de Deus: “porque o pecado é a
transgressão da lei” (1 Jo 3.4 – ARA), ou seja, a quebra do relacionamento do
ser humano com Deus. Há diversos conceitos bíblicos tanto para designar o
pecado, tais como rebelião e desobediência, como suas consequências, quais
sejam: incapacidade espiritual, falta de conformidade com a vontade de Deus em
estado, disposição ou conduta e corrupção inata dos seres humanos: “não há
homem justo sobre a terra, que faça bem e nunca peque” (Ec 7.20); “Porque todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). Atanásio, um dos pais
da Igreja, dizia que o pecado é a introdução dentro da criação de um elemento
desintegrador que conduz à destruição e que somente pode ser expelido por meio
de uma nova criação. Daí, a necessidade do novo nascimento. A universalidade do
pecado é confirmada em toda a Bíblia e comprovada pela própria experiência
humana.
1. Nomes.
São dois os termos genéricos para “pecado”.
Um deles aparece em hebraico no Antigo Testamento; é o substantivo chatá, “o
pecado jaz à porta” (Gn 4.7), cuja ideia básica é “errar o alvo”, do qual deriva o verbo: “todos atiravam com a funda
uma pedra a um cabelo e não erravam” (Jz 20.16); “E erra o alvo quem é
precipitado” (Pv 19.2 – TB). O segundo termo é o seu correspondente grego
hamartia, que, embora sem conotação moral no grego clássico secular, aparece
com tal sentido na Septuaginta e no Novo Testamento: “todo pecado e blasfêmia
se perdoará aos homens” (Mt 12.31). O pecador erra o alvo ou o objetivo da vida
que Deus coloca diante dele. Há, ainda, inúmeras outras palavras que expressam
o pecado, como transgressão, impiedade, maldade, perversidade, engano, sedução,
iniquidade, injustiça e incredulidade.
2. Sua origem.
O pecado já existia mesmo antes da criação
de Adão e Eva. Originou-se no coração de um querubim ungido, que, juntamente com
um grupo de anjos, rebelou-se contra Deus, razão pela qual os insurgentes foram
expulsos do céu. O querubim ungido tornou-se Satanás, que quer dizer “inimigo”,
sendo, também, denominado Diabo, nome que significa “caluniador”. Quanto aos
anjos que se rebelaram, tornaram-se demônios. Entendemos que a primeira manifestação do pecado aconteceu na esfera
angelical. O pecado não é causado por Deus: “Ninguém, ao ser tentado, diga:
Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a
ninguém tenta” (Tg 1.13). Deus está longe de toda impiedade e injustiça: “Longe
de Deus a impiedade, e do Todo poderoso, a perversidade!” (Jó 34.10); “e não há
nele injustiça” (Dt 32.4; Sl 92.15). As pessoas são tentadas quando atraídas e
enganadas pela própria cobiça. Quando a cobiça é concebida, dá à luz o pecado.
Eva foi seduzida e enganada. A tentação
envolve indução externa e mais os desejos da carne pelas coisas proibidas
por Deus.
3. A Queda no
Éden.
A “queda do homem” é uma expressão
teológica para designar o momento em que
o pecado entrou no mundo por meio do primeiro casal, Adão e Eva: “Pelo que,
como por um homem entrou o pecado no mundo” (Rm 5.12). Os dois foram criados em
total inocência e não conheciam o mal antes de desobedecerem a Deus. Foi dada a
Adão a ordem de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal: “porque,
no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17); ele, contudo, podia
comer livremente de toda a árvore do jardim. O casal desobedeceu a Deus, pois a
serpente, identificada em Apocalipse como diabo e Satanás, entrou em cena e
enganou Eva. E foi assim que a humanidade conheceu experimentalmente o mal:
“Então, disse o SENHOR Deus: Eis que o
homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, pois, para que não
estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente”
(Gn 3.22).
4. O pecado
original.
Adão não foi criado impecável, nem
pecaminoso, mas, sim, perfeito: “Deus
fez ao homem reto, mas ele buscou muitas invenções” (Ec 7.29). Deus dotou
Adão do livre-arbítrio, com o qual ele era capaz tanto de obedecer quanto de
desobedecer ao Criador. Ele escolheu desobedecer a Deus, e a sua queda arruinou
toda a humanidade, distanciando-a de Deus: “Porque
todos pecaram e destituídos estão da
glória de Deus” (Rm 3.23). A iniquidade de Adão, a qual nós chamamos de pecado original, contaminou toda a raça humana; em consequência
disso, a humanidade tornou-se universal e totalmente degenerada, pois todos os
seus descendentes nascem em pecado; todos nascemos em transgressão. Deus,
entretanto, prometeu o Redentor ainda no jardim do Éden, quando anunciou a
vinda da “semente da mulher” para esmagar a cabeça da serpente. Apesar de
corrompida pelo pecado, a natureza humana pode ser eficazmente regenerada por
Cristo: “se alguém está em Cristo, nova
criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Co 5.17); “Porque somos feitura sua,
criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que
andássemos nelas” (Ef 2.10); o nosso corpo pode ser o templo do Espírito
Santo.
5. Consequências
da Queda.
O relato bíblico revela que o senso de
culpa foi instantâneo. Adão e Eva morreram espiritualmente no mesmo momento em
que comeram o fruto proibido, pois a comunhão com Deus foi interrompida de
imediato. Morte significa separação, e o pecado separou os seres humanos de
Deus: “Mas as vossas iniquidades fazem
divisão entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o seu rosto de
vós, para que vos não ouça” (Is 59.2). Os olhos do casal foram abertos, e
logo ambos perceberam que estavam nus; tendo conhecido pessoalmente o mal,
procuraram esconder-se da presença de Deus porque sentiram medo. O juízo divino
veio sobre a serpente, sobre a mulher e sobre o homem. Toda a raça humana e a
própria natureza sofrem as consequências funestas do primeiro pecado humano
seguido do justo juízo pronunciado por Deus, pois um Deus santo tinha de julgar
a desobediência de suas criaturas.
6. A corrupção
total do gênero humano.
A Queda no Éden arruinou toda a humanidade
tão profundamente que transmitiu a todos os seres humanos a tendência ou
inclinação para o pecado. Não somente isso, contaminou toda a humanidade: “não há um justo sequer” (Rm 3.10); “todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). A natureza moral
foi corrompida, e o coração humano tornou-se enganoso e perverso. Todas as
pessoas estão mortas em ofensas e pecados; são inimigas de Deus e escravas do
pecado. A corrupção do gênero humano
atingiu o homem em toda a sua composição — corpo, alma e espírito, conforme
lemos em Isaías: “Toda a cabeça está enferma, e todo o coração, fraco. Desde a
planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã” (1.5,6). Isso prejudicou todas
as suas faculdades, quais sejam: intelecto, emoção, vontade, consciência, razão
e liberdade. Portanto, o homem por si
mesmo não consegue voltar-se para Deus sem o auxílio da graça divina.
Apesar de tudo, a imagem de Deus no homem não foi aniquilada; foi, no entanto,
desfigurada a tal ponto que a sua restauração só é possível em Cristo. Jesus
reconheceu algumas qualidades no moço rico e até mesmo nos fariseus. Todos nós
conhecemos descrentes que são pessoas de bem, honestas e de bom caráter e
religiosas, como o centurião de Cafarnaum, ainda que o bem social que elas
praticam leve a marca da contaminação do pecado.
7. A situação
dos recém-nascidos e das crianças.
Até os bebês recém-nascidos e as demais
crianças que ainda não conheceram
experimentalmente o pecado já possuem uma natureza pecaminosa. O Senhor Jesus,
porém, quando se referiu à situação das crianças, afirmou que das tais é o
Reino de Deus: “Deixai os pequeninos e não os estorveis de vir a mim, porque
dos tais é o Reino dos céus” (Mt 19.14). Em relação à responsabilidade pessoal,
considerando que algumas crianças desenvolvem-se no aspecto moral mais cedo que
outras, e que a Bíblia não define, para isso, uma idade, não é possível
atribuir-lhes culpa até que elas façam bem ou mal conscientemente. Entendemos
que a obra da redenção realizada pelo Senhor Jesus em favor de todas as pessoas
proveu salvação aos que vierem a falecer em tenra idade: “porque dos tais é o
Reino dos Deus” (Mc 10.14). Entendemos,
com base nessas palavras, que as crianças não serão condenadas e nem estarão
perdidas caso morram antes de terem condições morais e intelectuais de poderem
responder conscientemente ao “dom gratuito de Deus” (Rm 6.23). O Senhor
Jesus apresentou as crianças como exemplo de quem herda o Reino de Deus.
8. A relação do
pecado de Adão com a pecaminosidade humana.
O pecado original, no sentido estrito da
palavra, diz respeito à primeira transgressão do ser humano à Lei de Deus. É,
no entanto, usado geralmente para designar a pecaminosidade universal e
hereditária do gênero humano desde a queda de Adão. O pecado de Adão afetou
toda a raça humana: “Pelo que, como por
um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte
passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Rm 5.12). O ensino
paulino fundamenta-se nas Escrituras do Antigo Testamento que descreve a
corrupção geral da humanidade. O apóstolo Paulo, por revelação divina,
desenvolveu esse pensamento tornando tal doutrina mais clara. Seu ensino é de
que a morte originou-se na raça humana
por causa do pecado de Adão: “no dia em que dela comeres, certamente morrerás”
(Gn 2.17); “até que te tornes à
terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn
3.19). Isso esclarece a razão pela qual “o salário do pecado é a morte” (Rm
6.23). Como a morte é universal, aí está
a evidência incontestável da universalidade do pecado. E assim temos a
triste realidade: “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm
3.23). Quando, porém, somos advertidos de que a morte é consequência do pecado,
o apóstolo imediatamente apresenta a tranquilizadora mensagem: “mas o dom gratuito de Deus é a vida
eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6.23).
9. A morte.
A
morte é uma das consequências primárias do pecado, sua punição e castigo. Por essa razão, o mundo
inteiro tem de experimentar esse terrível golpe: “Aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o
juízo” (Hb 9.27). Esse é o resultado do pecado original de Adão. O ser
humano não foi destinado para a morte, mas para a vida; Adão não teria morrido
se tivesse vencido a tentação. A morte
espiritual é o atual estado do pecador sem Cristo: “E vos vivificou,
estando vós mortos em ofensas e pecados” (Ef 2.1). Quem recebe a Jesus como seu salvador pessoal passa da morte para a
vida: “quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna
e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” (Jo 5.24). A morte eterna é uma extensão da morte
espiritual para os que rejeitarem a vida eterna em Jesus. Ela é chamada de
segunda morte. A morte foi vencida no Calvário por Cristo, que trouxe a
vida aos “que recebem a abundância da
graça e do dom da justiça reinarão em vida por um só, Jesus Cristo” (Rm 5.17).
Assim como a morte e o pecado passaram a todos os seres humanos por causa do
pecado de um só (Adão), a salvação e a vida eterna, da mesma maneira, são
concedidas a todo aquele que nEle crê, pela justiça de um só homem, o Senhor
Jesus Cristo: “Porque, assim como a morte veio por um homem, também a
ressurreição dos mortos veio por um homem. Porque, assim como todos morrem em
Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1 Co 15.21,22).
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